… A inteligência, ou seja, a luz da verdade, não foi criada nem feita nem verdadeiramente pode sê-lo. Toda verdade é independente para agir por si mesma na esfera em que Deus a colocou, como também toda inteligência; caso contrário, não há existência.
(D&C 93:29-30)
1
ESTRELA DE NÊUTRONS
Espaço. Negra e fria imensidão infinita. Em um sincronismo perfeito, os astros permanecem em suas órbitas, e por bilhões de anos, muitos mundos existiram e outros deixaram de existir. Nos incontáveis universos, as inteligências, elemento pensante preponderante, permeiam as eternidades em busca do progresso.
A pequena e superdensa estrela de nêutrons, também designada como Pulsar, escolhida para a união das inteligências, destacava-se entre outras. Por bilhões de anos emitiu seus pulsos pela vastidão infinita de espaços dimensionais, mas uma crise interna abalou sua estrutura. Era formada por quinze inteligências indivíduo acorporais de nível Oliblish, que buscam o progresso eterno. Mas no caminho da perfeição um momento de estagnação surgiu. Uma quebra da intermitência dos pulsos da estrela ocorreu quando a discussão se tornou pesada e os ânimos alterados no compartilhamento.
— Isto está fora de cogitação. — Interrompeu categoricamente Maj, supremo líder no Rauqueeian — Vocês simplesmente ignoram o fato de que tal atitude pode influenciar diretamente o espaço-tempo em alguma esfera celeste, alterar o continuum ou eliminar incontáveis inteligências materiais?
— Não ignoramos tal pensamento, mas afirmamos que precisamos tomar uma atitude ou será tarde demais. — Korash transmitiu suas ideias mais intensamente através do aglomerado estelar. — Além do mais, por que se importar tanto com detalhes insignificantes e não com nosso objetivo existencial?
— Objetivo existencial? Sobre o que você está tentando compartilhar? — Perguntou Maj.
— Como assim sobre o que estou tentando compartilhar? Temos que progredir e evoluir até a individualidade interdependente de cada membro do Rauqueeian. Para isto temos que juntos compartilhar o conhecimento de Kolob através da abertura de Enish-go-on-dosh. Estamos muito próximos de poder deixar Oliblish e sermos os últimos na contagem do tempo assim como Kli-flos-is-es e Hah-ko-kau-beam. Mas se não o fizermos até a revolução sétima de Kolob, seremos inteligências materio-corpóreas dentro do espaço-tempo, como estas que conhecemos nas superfícies das esferas menores que circulam as esferas celestes. Em outras palavras, seremos seres inferiores habitando os planetas.
As outras treze inteligências não compartilharam. Apenas receberam as informações enquanto Maj e Korash discutiam. Como inteligências individuais, independentes e livres, estas quinze se uniram através de matéria inorganizada e formaram uma estrela pulsante. Toda a comunicação era feita de forma direta através da matéria, como energia elétrica correndo por um fio.
— Sei muito bem a respeito de tudo isto, mas não permitirei a abertura de Enish para ajudar no objetivo existencial, a qual poderá ou não nos levar ao nível de Kolob. Desde nossa organização pelos membros anteriores do Rauqueeian, somos alertados do perigo de tal abertura e suas consequências. A explosão criadora do terceiro espaço foi causada por tal abertura, e o aparecimento das inteligências materiais em suas esferas nos trouxeram responsabilidades perante o código Cae-e-vanrás.
— Pura especulação. Toda a matéria aglutinada estava saturada e em fase terminal. Sua explosão era mera consequência de algo que ainda não entendemos. Além do mais, não concordo com tais responsabilidades.
— Não estamos na posição em estar de acordo ou não com relação a tais responsabilidades, apenas a de aceitar.
— Tudo bem Maj, — assentiu Korash — mas temos que evoluir agora ou não haverá mais oportunidade.
Mais uma vez quero trazer ao conhecimento de todos que esta variante espaço-tempo-continuum nos afetará diretamente, e nosso progresso interrompido permanentemente. Por isso temos que fazer a abertura.
— Mas as consequências! Estas também podem nos impedir. — Maj continuou a se opor, sentindo a grande responsabilidade que lhe era por direito.
Desde que, por acordo mútuo, Maj se tornou o grande líder, esta era a primeira vez que enfrentava um problema de tal magnitude. Sua honra e capacidade de liderança estavam sendo posta à prova e isto lhe trouxe um sentimento de incapacidade.
— Deixem-me interrompê-los. — Os pensamentos suaves de Javibi permearam-se calidamente por todos os quatorze membros — Compreendo o ponto de vista de ambos, e creio que podemos chegar a uma decisão acertada. Explicarei. — Todos se atentaram às suas explanações — Como é de conhecimento de todos, pertencemos a um nível elevado da grande expansão e firmamento, a qual nossos antecessores denominaram Oliblish, dentro do Rauqueeian. Juntos formamos, a penúltima esfera superior na contagem de tempo. Cada um de nós tem como objetivo alcançar o próximo nível de progresso, onde o tempo não existirá como o conhecemos. Nos tornaremos onipotentes, pelo menos é o que os compartilhamentos mais antigos afirmam. No momento temos influência sobre os infinitos níveis inferiores exceto sobre o terceiro espaço. Não sabendo o porquê de tal exceção, visto também ser um nível inferior. Pensamentos não confirmados cogitam que apenas o nível superior de Kolob o controla, assim como a nós.
— Não há precedentes sobre este último ponto e eu não acredito em tal submissão à Kolob. — Interveio Korash.
— Por favor, deixe-me concluir meu raciocínio.
Um pulso da esfera ecoou por todo o universo e Javibi agradeceu:
— Obrigado. — E continuou — Independente do motivo da explosão da grande matéria aglutinada, se foi ou não causada pela abertura de Enish-go-on-dosh, o fato é que o terceiro espaço se originou a partir de então.
Desde tal momento, as três outras aberturas afetaram aleatoriamente toda a imensidão e mais diretamente a existência e harmonia no terceiro espaço. Poderíamos progredir naturalmente sem a abertura de Enish, mas como Korash tem nos alertado, uma variante espaço-tempo-continuum levará nossa existência para níveis inferiores, impedindo nosso progresso.
— Então o que fazer? — Maj tornou-se impaciente.
— Um momento e chegarei à conclusão. — Com calma Javibi prosseguiu — Por não se conhecer os mistérios de Kolob, a abertura resulta em, além de afetar o terceiro espaço, penalidades perante o código Cae-evanrás, que nos atrasa em nosso progresso. Ao primeiro pensamento podemos concluir que estamos sem uma solução, pois os dois fatos citados parecem nos impedir. Mas de qualquer forma sou da opinião que devemos abrir Enish-go-on-dosh para completar nosso progresso.
— Negativo Javibi. Não faremos a abertura. Não posso arriscar sem ter uma segunda alternativa.
— Por favor Maj, deixe-me terminar e poderão concordar comigo ou não.
— Está bem continue.
— Sem dúvida alguma a abertura afetará diretamente o terceiro espaço e consequentemente suas inteligências materiais, nos atrasando em nosso progresso, pois temos responsabilidades perante o código. Isto já é conhecido, mas com nossos conhecimentos de aberturas anteriores, podemos predizer através de um estudo minucioso, quais serão as consequências e onde elas ocorrerão. Desta forma demonstraremos que aceitamos nossas responsabilidades, não violando o código e conseguindo nosso progresso total. Antes que façam mais perguntas quero trazer ao pensamento comum que o código Cae-e-vanrás existe para nos ajudar a progredir, e podemos fazer a abertura sem violá-lo.
— Tenho minhas dúvidas a respeito. — Maj permaneceu irresoluto.
— De que forma podemos fazer esta predição? — Perguntou Korash ansioso, ignorando Maj.
Os quinze membros que formavam a esfera pulsante, tornaram-se mais compactos ao aguardarem ansiosamente pelo desfecho de Javibi. Tal contração se deve muitas vezes aos diferentes períodos de irradiação de micro-ondas do fluído eletrolítico da estrela.
Javibi continuou: — Cada membro, desde nossa organização pelos antecessores, possui uma existência de progresso, acumulando conhecimento através da expansão e firmamento. Separados adquirimos uma quantidade limitada de conhecimento, o qual é compartilhado quando juntos formamos uma esfera pulsante ou qualquer outro astro ou partícula. Desta forma nosso progresso depende de cada membro individualmente. O que proponho é que cada um de nós pesquise, analise, separe e posteriormente compartilhe, toda e qualquer consequência resultante a partir das três aberturas anteriores. Deve ser uma pesquisa minuciosa em todos os níveis de conhecimento, em todos os espaços dimensionais e não dimensionais, em todas as direções do tempo linear onde exista, na globalidade do espaço-tempo e no que for conhecido do tempo não linear.
— Javibi antes que prossiga, — interrompeu Maj mais uma vez — quais as garantias de termos sucesso em tal tentativa?
— Nenhuma, pois não há precedentes para tal iniciativa, mas a lógica confirma o sucesso.
— Nenhuma, mas estaremos tentando algo! — Korash não suportou mais os comentários de Maj e acrescentou em um momento de ira — Sinto compartilhar este pensamento Maj, mas creio que devo questionar sua posição como líder.
— Verdade? Posso saber o motivo?
— Temos nos alertado que nosso progresso está impedido. Estamos buscando alternativas, inclusive a abertura de Enish, e o único pensamento que recebo de você é que não devemos fazê-lo. Antes que Javibi conclua, podemos conhecer qual é sua solução? — Desafiou Korash.
Não houve pensamento algum. Os pulsos da grande estrela praticamente cessaram enquanto Maj tentou formar algum pensamento. Desde que alcançaram o nível Oliblish, esta foi a primeira vez que uma crise abalou o relacionamento das quinze inteligências. Maj, Korash e Javibi eram os líderes governantes, tendo abaixo em hierarquia outras doze. No princípio da formação de Oliblish, quando ainda não eram uma estrela pulsante, os quinze membros em sua individualidade não material, uniram-se com um propósito específico de alcançar a perfeição através da sinergia coletiva. Desde seus primórdios, com etapas gradativas de aperfeiçoamento, tal progresso ocorreu normalmente. A etapa definitiva veio acompanhada de uma crise inesperada.
O universo manteve seu curso quando a estrela pulsou e o triste pensamento de Maj foi compartilhado.
— Sinto informar que não possuo nenhuma no momento. — Sua tristeza foi totalmente expressa. — Mas quero compartilhar que possuo conhecimentos que no momento não posso transmitir à toda coletividade por instruções superiores de Kolob. Peço apenas que confiem em seu líder.
— Percebem? — Korash indignou-se — Agora está apelando para este misticismo estúpido. Precisamos fazer algo, e urgente.
— Estamos saindo do objetivo inicial de nossa união. — Javibi calmamente trouxe todos ao foco principal da discussão — Como estava compartilhando, após recolhermos todos os dados, nos uniremos novamente. Todo o conhecimento será compartilhado, e através de análises comparativas, levando em conta todas as variantes possíveis, concluiremos quais as consequências que ocorrerão na próxima abertura.
— Isto tudo não parece muito simples para ser correto? — A inteligência Kepaki expressou-se com dúvida sincera e continuou — Também precisamos relembrar que não há garantias do que acontece no próximo nível de progresso. O que temos compartilhado até o momento é a dedução lógica do progresso dentro do Rauqueeian, pois não sabemos onde estão os antecessores que passaram para Kolob. Mas não importa, pois nosso objetivo é progredir. O que eu questiono é o seguinte. Será que esta simplicidade de ação pode compensar toda a responsabilidade imposta pelo código?
— Realmente é simples, e não entendo como não chegamos a esta conclusão antes. — Concordou Javibi — O que importa nesta pesquisa é podermos identificar certos padrões em todas as consequências ocorridas e, a partir de tal identificação, predizer o que acontecerá, onde e como, com nossa próxima abertura.
— Realmente faz sentido. Com tais padrões identificados poderemos inter-relacioná-los e definir outros.
O que me preocupa é caso não haja estes padrões que esperamos. — A Inteligência Trivin transmitiu preocupação à toda a esfera.
— Para tudo há um padrão, até mesmo para as exceções podemos verificar um padrão. — Javibi fez seus pensamentos fluir fortemente através de cada inteligência de Oliblish.
— Se este é o caso, — continuou Trivin — esta variante que impede nosso progresso deve também manter um padrão, certo?
— Sem dúvida alguma.
— Então porque não foi feito anteriormente um levantamento para se determinar tais padrões?
— Em minha opinião Trivin, — prossegui Javibi — e eu compartilho isto como uma suposição pessoal, estes padrões sem dúvida foram identificados anteriormente, inclusive a variante foi predita, mas por negligência não pensada, membros antecessores perceberam que não afetariam sua própria existência, pois tal variante ocorreria em um momento em que eles já teriam passado para o próximo nível de progresso. Conclusão: porque se importar com algo que talvez venha a interferir em outras possíveis existências? Talvez pensaram que no momento de tal variante nós não existiríamos, e por afetar apenas nosso nível de inteligência, não traria responsabilidades perante o código. Daí a não necessidade de se importar com tal detalhe.
— Javibi, você terminou? — Perguntou Korash.
— Sim, todo o meu raciocínio foi compartilhado. O único assunto a tratar agora é se todos estão de acordo e dispostos a fazer tal pesquisa.
— Então grande líder Maj, qual será nossa próxima atitude? — Houve ironia e desafio nos pensamentos de Korash.
Na imensidão de todo o espaço, a estrela de nível Oliblish brilhou com intensidade, pulsando harmoniosamente. Uma estrela maravilhosa e imponente. Ela brilhou por bilhões de anos e agora chegou em sua fase final, onde morreria como toda estrela.
Maj falou com autoridade:
— A união será desfeita e todos farão a pesquisa até a próxima revolução de Kolob. — Maj transmitiu desgosto, mas manteve sua dignidade como líder. — Quero trazer à lembrança de todos que nenhuma decisão foi tomada. Independente da autorização agora cedida, a decisão final será feita por mim após a votação. — Houve alguns instantes de pura estática de compartilhamento pelas inteligências e Maj continuou:
— Antes que haja a separação, quero compartilhar que percebo pensamentos obscurecidos. Por ser a primeira vez que isto ocorre em nossa união, quero trazer ao conhecimento de todas as inteligências de Oliblish que tal atitude será acompanhada de punição caso o obscurecimento permaneça em nossa próxima união.
A cena no espaço era magnífica. A estrela começou a esfriar e expelir matéria para todas as direções.
Seu brilho diminuiu gradativamente enquanto as quinze inteligências lentamente desfizeram a união. Cada membro tornou-se uma inteligência individual. A grande esfera perdeu quase totalmente seu brilho, enquanto todos partiram em busca do que poderia vir a ser o destino final.
Houve apenas um leve brilho em meio aos restos da estrela enquanto as duas últimas inteligências se mantiveram unidas quando um pensamento questionativo foi feito.
— O pensamento obscurecido era seu, não era Korash? — Javibi compartilhou preocupação.
— Claro que era meu amigo.
— Posso saber porque isto agora? Esta é a primeira vez que há um pensamento obscurecido em Oliblish.
O que você está escondendo de nós?
— Boa e estimada inteligência Javibi. — Calmamente Korash começou sua explicação — Desde que nos unimos temos focalizado nossas forças para alcançarmos a perfeição, e é o que realmente quero. Mas nos últimos momentos de nossa existência Maj tem-se demonstrado apático. Isto eu não suporto.
— Tudo bem Korash, mas o que está escondendo de nós?
— Quer realmente saber?
— Por favor.
Um pequeno brilho, sem pulso e inerte, foi percebido entre a matéria deixada pela união dos quinze membros, enquanto Korash e Javibi compartilharam. Korash com ira crescente compartilhou:
— Farei tudo para tirar Maj de sua posição de líder supremo e me colocarei no lugar dele para alcançarmos a perfeição. Este é o único meio, pois ele não aceitará a abertura, e sem o consentimento de todos nada pode ser feito. Ele precisa ser expulso.
— Korash você não pode estar compartilhando seriamente.
— Espere Javibi. Apenas espere.
Os dois se separaram e a esfera se desfez por completo, deixando a vagar pelo espaço matéria morta e inorganizada. Uma união de bilhões de anos.
2
COMETA
— O quê? — Exclamou Krad ao receber os pensamentos de Korash — Você deve estar completamente desorientado. Este pensamento foi o mais absurdo já compartilhado comigo. Você realmente está compartilhando seriamente? — Questionou com sinceridade.
Krad era uma inteligência errante, e com união dupla percorria a imensidão do vácuo sideral. Todas as inteligências são eternas, significando que não possuem início ou fim. Cada inteligência é livre para agir, e combinada a elementos de matéria inorganizada, tornam-se inteligências ativas. Duas dessas inteligências, Korash e Krad, por acordo mútuo, agem em elementos não ativos e formaram o que é conhecido por cometa.
— Meu caro companheiro Krad. — Com paciência e determinação Korash continuou a compartilhar suas ideias através da pequena massa de matéria organizada — Tenho um problema e preciso de sua ajuda. Nos conhecemos por muitos períodos e revoluções e eu não teria me submetido a esta união se não fosse para pedir sua ajuda.
Korash evoluiu através das incontáveis eternidades. Assim como as outras quatorze inteligências do nível Oliblish, estava próximo ao seguinte nível de progresso. Seu objetivo era o poder absoluto. Desde sua decisão em tomar posse da posição de Maj, procurou desesperadamente a maneira mais eficaz e rápida de fazê-lo.
— Como assim se submetido a esta união? — Krad mostrou-se ofendido.
— Desculpe, não quis ofendê-lo. É que normalmente não me uno para formar pequenos astros errantes e sim grandes corpos celestes. — Tentou se desculpar, mas percebeu de imediato que estava começando a piorar as coisas.
— Então caro Korash, por que você não cai fora e vá se unir à suas amigáveis inteligências e me deixa apreciar o universo sozinho?
— Mais uma vez me desculpe. Não queria compartilhar de maneira a irritá-lo, mas creio que estou um pouco apressado e devo ter compartilhado algo sem meditar. Não era a minha intenção. Quero realmente que você me ajude.
— Está bem, — concordou Krad — mas se você usar de sua aparente superioridade para me humilhar, farei com que entremos em uma atmosfera de qualquer planeta e nossa união estará desfeita permanentemente.
Entendido?
— Prometo que irei me controlar.
— Melhor assim.
Krad era uma inteligência que não se preocupava em alcançar o objetivo existencial. Optou por uniões simples, mas que o leve aos confins do universo, sem se preocupar com regras e códigos a serem cumpridos.
Depois de controlar sua ira com os comentários infelizes de Korash, perguntou:
— Vamos começar do início. Por favor, me explique detalhadamente para eu poder entender toda esta sua situação e, — fez uma pausa prolongada — talvez poder te ajudar.
— Tenho certeza que você pode. — Acrescentou Korash.
— Então comece por favor. — Pediu Krad com impaciência — Por que este tal Maj não quer abrir o Enish, se é para o bem de todos?
— Antes disso vamos entender alguns conceitos. Acho que na minha afobação omiti detalhes importantes.
Prometo ser mais claro desta vez. — Korash gostava de compartilhar sobre o assunto.
— A primeira coisa a saber é que a estrela Kolob, a maior de todas, é a última nos níveis de progresso. — Começou Korash — Eu juntamente com outras quatorze inteligências, estamos um nível antes deste, o qual é chamado Oliblish.
— Com relação a Kolob eu já sabia — afirmou Krad — mas deixe-me analisar bem. Vocês alcançaram normalmente, quero dizer, de uma forma natural sem recorrer a nada extremo para alcançar este seu nível atual, certo?
— Certo. — Afirmou Korash.
— Podem continuar a progredir normalmente até Kolob? — Inquiriu Krad.
— Teoricamente podemos.
— Então por que todo este desespero?
— Eu compartilhei a palavra teoricamente. Deixe-me continuar e irá entender.
O cometa aproximou-se de uma estrela e partículas de seu corpo desprenderam-se, formando atrás de si uma cauda comprida e luminosa. Korash continuou:
— O Rauqueeian, que é a expansão ou o firmamento…
— O universo, você quer dizer? — Interrompeu Krad.
— Exatamente. Este Rauqueeian é dividido por níveis de progresso e estamos no penúltimo. Como disse anteriormente, teoricamente poderíamos alcançar o próximo nível de maneira normal, como você comentou, sem recorrer a nada extra. Mas o problema reside na existência de uma anomalia, uma variante espaço-tempo-continuum.
— O que é isto? — Perguntou Krad.
— Trata-se de um evento cósmico que irá mesclar, interromper ou limitar o andamento normal do tempo linear. Para cada nível de progresso temos uma faixa limitada no tempo linear para estarmos aptos para o nível seguinte. Caso não o façamos estaremos regredindo na escala de progresso, pois no Rauqueeian não há condições estáticas, ou estamos progredindo ou regredindo. Esta anomalia que citei irá fazer com que nosso tempo linear seja alterado, não sendo possível alcançar os requisitos para passarmos para o nível de Kolob.
— Korash, espere um pouco. — Compartilhou Krad — Você quer dizer que o tempo será diminuído? Mas também não há a possibilidade de aumento, havendo mais folga para alcançar os requisitos para o próximo nível?
— Sim, ele pode aumentar ou diminuir, mas você não acha que é um risco muito grande?
— Pensando bem é sim, — concordou Korash — mas não alcançando o nível de Kolob agora, vocês não podem ter outra chance?
— Como eu disse antes Krad, não há estática no universo, principalmente entre as inteligências. Ou progredimos, ou regredimos.
— Entendo. — Krad pareceu se dispersar em seus pensamentos quando Korash voltou à sua explanação.
— Então, devido a esta variante só há uma maneira de passarmos para o próximo nível, que é através da abertura de Enish-go-on-dosh.
— E o que é Enish-não-sei-o-quê?
— Não posso acreditar que você não sabe o que é Enish-go-on-dosh? — Korash compartilhou seus pensamentos acusadoramente.
— Esqueceu de nosso trato Korash? — Compartilhou Krad enquanto a órbita do cometa se desviou para uma rota de colisão ao planeta mais próximo.
— Desculpe. Enish-go-on-dosh é um planeta com características governantes. — Korash rapidamente voltou ao assuntou e fez uma nota mental a si mesmo para não mais fazer comentários desnecessários.
— É bom mesmo você voltar à explicação e deixar de lado o que acredita ou deixa de acreditar. — Neste instante a órbita do cometa foi corrigida. Korash acrescentou:
— Tal planeta recebe luz de Kolob, em outras palavras, inteligência e verdade. Através dele podemos adquirir todo o conhecimento que nos falta para estarmos aptos para o nível seguinte.
— Desculpe-me a ignorância, mas por que vocês ainda não compartilharam tal conhecimento? — Perguntou Krad.
— Não é tão simples assim Krad.
— Por que não?
— Porque há o Cae-e-vanrás.
— Já me compartilharam a respeito, — comentou — trata-se de algumas leis.
— Não se trata apenas de leis, mas de um conjunto de códigos aos quais estamos subordinados. É a chave-suprema ou o poder governante. Temos que obedecer ou estaremos sujeitos às penalidades impostas pelo código, e cada penalidade nos atrasa no desenvolvimento eterno.
— Pelo que eu percebo não há muitas escolhas Korash. Se você recorrer a Enish-go-on-dosh não conseguirá progredir devido às penalidades. Deixando de recorrer, a variante poderá acabar com o tempo necessário para o progresso. Se eu fosse você, optaria por não recorrer a Enish, pois com a variante há a possibilidade do tempo ser aumentado.
— Aí é onde quero chegar Krad. O código existe para nos ajudar a progredir. Acompanhe o raciocínio.
Temos nosso objetivo existencial que é o de progredir. Já que o código existe para nos ajudar, e nosso objetivo é progredir, conclui-se que o código irá nos ajudar a progredir. Devido a variante, este nosso progresso está praticamente anulado. Tomando como base a conclusão que o código existe para ajudar-nos em nosso objetivo de progresso e que não há outra opção a não ser recorrer à Enish, temos a conclusão final que não seremos punidos pois o código existe para nos ajudar.
— Realmente não há outra opção? — Questionou Krad.
— Claro que não há, ou você pensa que estou aqui criando tudo isto? — Foi a vez de Korash sentir-se ofendido.
— Não penso nada, apenas estou querendo que compartilhe tudo para que eu possa te ajudar. Não é isto que quer de mim? Ajuda?
— Sim quero sua ajuda. — Concordou Korash.
— Antes que prossiga, e compartilho a você que já tenho uma boa ideia sobre seu problema, posso fazer algumas perguntas?
— Por favor Krad, faça-o.
— Há qualquer indício de que alguma inteligência tenha alcançado o nível de Kolob? Quero dizer, não apenas compartilhamento sobre isto, mas algo mais confiável? — Krad compartilhou esta última palavra com certo receio e esperou a reação de Korash.
— Sei o que está querendo. Uma prova, algum tipo de contato com elas. Certo?
— Certo.
— Infelizmente não há nada a não ser compartilhamentos que transcendem todo o limite do tempo linear conhecido. Mas é algo totalmente lógico, faz parte do progresso eterno.
— Dizem que há submissão ao nível de Kolob, — Propôs Krad — É verdade?
— A grande maioria das inteligências afirma isto, mas eu particularmente não acredito e nunca me submeti.
— Em minha jornada pelo espaço tenho recebido conhecimentos incríveis, e dentre todos, um em especial me chama a atenção. Diz respeito ao nível Kolob. Não sei se realmente é verdade, mas é muito interessante.
— Por favor, compartilhe comigo. — O interesse de Korash elevou-se um pouco acima no nível normal.
— Bem, — começou Krad — dizem que no nível Kolob há uma inteligência superior a todas as conhecidas, e que em tal nível todas estas inteligências possuem formas definidas permanentes.
— Não é possível! — Korash estava fascinado.
— E tem mais, — continuou Krad — dizem que no nível Kolob há mais três sub níveis, e que o segundo sub nível se encontra sobre os planetas.
— Você não está querendo dizer que são as inteligências materiais do espaço-tempo que habitam os planetas em geral?
— Não os planetas em geral, mas os do terceiro espaço.
— Isto está totalmente fora da lógica universal. Como podemos imaginar que estes seres inferiores podem estar alguns níveis acima na escala do progresso? — Korash havia perdido totalmente o interesse sobre o assunto.
— Não posso imaginar nada Korash, apenas estou compartilhando o que possuo. Ademais, faz certa lógica sim. Responda-me o seguinte, por que não se pode influenciar o terceiro espaço?
— Não faço a menor ideia e não estou interessado no momento. Posso terminar e dizer claramente o que quero de você?
— Prossiga. — Assentiu Krad.
— Como disse no começo a única solução é tomar o lugar de Maj.
— Algo que considero totalmente ilógico e revolucionário. — Compartilhou Krad.
— Revolucionário sim, ilógico não. Sozinho não posso fazer nada, por isso quero que me leve até Elkenah, Libnah e Mamackra.
— O quê? — Krad perguntou — O que você quer com estas inteligências decaídas e impuras?
— Fazer uma aliança e tirar Maj da posição de líder supremo.
— O que o leva a pensar que vai conseguir tirá-lo desta maneira? E ainda mais, você faz idéia de quem são estas três inteligências? Acha que elas irão se unir a você?
— Posso responder uma pergunta de cada vez? — Korash compartilhou ironicamente — Sei muito bem quem são. De qual modo vou convencê-las a se juntarem a mim, e como tirarei Maj, isto é algo que guardarei comigo. A única coisa que quero como ajuda sua é que me leve até eles, pois sei que sabe onde estão. Posso contar com você?
Houve uma interrupção entre o compartilhamento. O cometa fez sua aproximação máxima da estrela que orbitava. Sua calda estendeu-se por milhares de quilômetros.
— Aprecio muito sua companhia Korash, e temo muito pelo seu pedido.
— Deixe seu sentimentalismo fora da decisão e diga-me: você vai ou não me levar até elas?
Após um momento de hesitação Krad concordou: — Está bem. Mas com uma condição.
— Qual é? — Perguntou Korash.
— A de que você não venha a compartilhar com ninguém sobre meu envolvimento nesta sua decisão louca.
— Está prometido meu amigo.
— Mais uma coisa Korash. Teremos que desfazer nossa união, pois as três inteligências estão em um setor do espaço não linear.
— Você manda Krad. — Korash transmitiu uma felicidade grande e motivadora, mas que trouxe apenas tristeza à Krad.
O cometa, após dar a volta em torno da estrela, mudou sua órbita e seguiu rumo ao segundo planeta.
Penetrou em sua órbita, incinerou e chocou-se violentamente com a superfície.
Korash e Krad rumaram para um local pouco desejado pelas inteligências. As proximidades das trevas exteriores.
3
SUPERNOVA
Era a primeira vez que Maj e Javibi se comunicavam através de uma união dupla e não múltipla. Isso trouxe certa privacidade, pensou Javibi, e assim poderia compartilhar um pouco mais profundamente com seu líder. Javibi ocupava a segunda posição na escala de liderança, desde o início, quando Maj organizou a união das quinze inteligências que estão no nível Oliblish. Era uma inteligência ponderada e que muitas vezes questionava as decisões do líder supremo, mas este último sempre levava em consideração suas observações. A amizade dos dois ocorreu desde o momento que souberam da existência uma da outra.
— O que está acontecendo conosco Javibi. — o compartilhamento de Maj transmitiu um certo desgosto.
— Nada está acontecendo conosco Maj. — Javibi não tinha a intenção de consolá-lo, mas aquele pensamento não foi outra coisa se não um consolo. — Certas inteligências é que estão agindo de forma revolucionária. Lembre-se de que as inteligências são livres para escolher de acordo com seus próprios ditames.
— Sei disso Javibi, mas quando nós, as quinze inteligências que decidiram através de confiança se dedicarem a alcançar o próximo nível, nada disto estava acontecendo. Creio que Korash está certo, talvez estou sendo falho como líder. — Seus pensamentos compartilhados eram de tristeza que foram rapidamente interrompidos por Javibi.
— De forma alguma Maj. Você está nesta posição porque todos nós assim desejamos. Você é honrado e não se pode abalar por uma crise causada por uma inteligência impaciente e revolucionária. Vamos esperar até que a pesquisa seja feita.
— Obrigado. Muito obrigado pelos seus pensamentos de encorajamento, mas vamos ao que interessa.
Não requeri tal união para me lamentar.
Os dois escolheram uma estrela que gradativamente começou a entrar em seu estado de transformação. Sua imensa massa fez com que sua temperatura fosse extremamente elevada e desta forma começou a produção de neutrinos em quantidade elevada, que escaparam da estrela rapidamente. Maj continuou:
— Javibi, você tem sido motivo de grande orgulho para mim e gostaria de compartilhar certos pensamentos. Trata-se de conhecimentos que não posso, no momento, compartilhar com todas as inteligências de nossa união. Mesmo porque não sei se confio em sua veracidade. Eu como líder supremo tenho certos direitos que a posição me fornece, e uma delas é manter em sigilo certos pensamentos, os quais serão compartilhados no momento em que eu julgar mais adequado ao progresso de todos. Assim não se trata de pensamentos obscurecidos, como os de Korash, que impedem o progresso coletivo.
A emissão de neutrinos pela estrela, a qual leva energia consigo, começou a esgotar o núcleo da mesma, onde a energia necessária para manter a estrela expandida chegou a índices muito baixos. Tudo aquilo que Maj começou a compartilhar aumentou a curiosidade de Javibi que recebeu os pensamentos de forma completa.
— Antes que eu continue, qual o seu entendimento da escala de progresso a que estamos sujeitos?
— Bem, como compartilhei em nossa última união como Oliblish, estamos no penúltimo nível. No próximo nos tornaremos perfeitos.
— Temos certeza absoluta sobre isto Javibi?
— Não posso afirmar que tenho certeza absoluta sobre isto, mas as incontáveis uniões antes de nossa existência conjunta, buscaram o próximo nível, e muitas conseguiram. — afirmou Javibi.
— Temos alguma notícia sobre quaisquer inteligências que passaram para o próximo nível?
— Não Maj, mas elas não são mais inteligências da maneira que somos, e não se pode mais fazer contato com elas.
— Você já se interrogou o porquê?
O centro da estrela esfriou rapidamente e, em colapso, começou a desabar sobre si mesma. Javibi, após uma ponderação, respondeu:
— Penso muito a respeito sobre nosso progresso, e além da lógica afirmar que temos um próximo nível na escala de progresso, creio que não temos contato com elas por uma mera questão de não influência. O que penso é que, se estamos a um nível da perfeição, este pode ser um dos mais difíceis em nossa existência e desta forma precisamos ficar sozinhos, sem contato com inteligências que estão à frente de nós no progresso, para que estas não venham a interferir com a justiça do processo.
— Você já pensou alguma vez que talvez o próximo nível não venha a ser o último?
— Desculpe Maj, mas este pensamento me parece muito improvável de ser verdadeiro. — Discordou Javibi.
— Este é o propósito de nossa união Javibi. Tenho algo a compartilhar contigo o qual me fez ponderar muito a respeito sobre tudo o que conhecemos até agora. Quero que não compartilhe tais pensamentos com qualquer que seja a inteligência, até o momento que eu achar oportuno.
— Sem dúvida guardarei tais pensamentos comigo Maj.
— Javibi, — Maj fez uma pausa antes de continuar — o próximo nível não é o último. Apenas uma passagem, uma transformação de nosso estado atual para algo mais elevado do que imaginamos.
A estrela desabou violentamente sobre seu próprio núcleo. A temperatura geral elevou-se a níveis colossais devido à conversão da energia gravitacional em calor. Todo o combustível nuclear entrou em fusão.
— Como pode afirmar isto Maj? Vai contra tudo o que temos feito para progredir até o momento. — Javibi se opôs naturalmente — Onde adquiriu tais pensamentos?
— Há muitas revoluções atrás eu tive contato com um ser. Uma entidade extraordinária.
— Você quer dizer uma união?
— Não Javibi, não foi uma união, mas como eu disse um contato.
— Mas se não foi uma união como conseguiu se comunicar?
— Não sei. Mas realmente fiz um contato com tal ser, e tive a oportunidade de vislumbrar coisas que estão longe do meu atual entendimento.
— Você está se referindo a um ser. Não era uma inteligência?
— Não. Não era uma inteligência como nós, mas um ser diferente. E por ser diferente não podíamos nos unir do mesmo modo que fazemos. Acho que se tratava de algo material, pois sentia sua presença de forma estranha. Algo parecido ao que sentimos quando nos unimos em meio à matéria inorganizada e formamos astros no firmamento. Não estou bem ao certo, pois foi algo novo para mim e não consigo descrever claramente.
— Por favor Maj, continue. Isto está sendo muito interessante, apesar de parecer muito improvável.
— Isto ainda é apenas o começo — afirmou Maj — você ficará deslumbrado com tudo o que tenho para compartilhar.
Com a implosão da estrela houve uma enorme explosão. A estrela transformou-se em uma supernova.
— O que aprendi em tal contato fez com que meus pensamentos divagassem um pouco. Talvez isto explique minha atitude nas últimas uniões e despertou a ira em Korash. Mas de qualquer forma estou muito bem, apesar desta crise.
— E o que realmente este ser compartilhou? — Javibi perguntou ansioso até que Maj voltou a compartilhar.
— Como compartilhei anteriormente, é muito difícil descrever em pensamentos de tal forma que eu possa compartilhar com qualquer um de forma clara e específica. O que sei realmente, ou o que adquiri neste contato, é que nosso próximo nível não será o último. Se me recordo bem será algum tipo de transformação em nossa existência e será conhecido como o primeiro estado. E este ser nos oferece esta nova etapa apenas pela confiança.
— Primeiro estado? Como assim primeiro estado? Já não passamos por vários níveis?
— Preste atenção Javibi, eu compartilhei primeiro estado. Algo novo em nossa existência que será chamado de o primeiro. Não estou bem ao certo, mas creio que existiremos de alguma outra forma que desconhecemos no momento.
— Desculpe-me pela minha descrença, mas é um tanto difícil acreditar nisto tudo.
— Nem estou requerendo isto de você Javibi. Apenas estou transmitindo algo que possuo. Talvez nem eu venha a acreditar em tudo isto, principalmente ao ver que após este primeiro estado haverá um segundo, onde haverá algo que vai contra a lógica que aceitamos.
— O que é?
— Nossa transformação continuará e neste estado passaremos a seres materialmente corpóreos.
— Quer dizer, as criaturas que habitam a superfície dos planetas? Isto é totalmente estúpido. — Javibi transmitiu obstinação — Maj, posso saber qual sua opinião sobre tudo isto?
— Usando apenas a lógica pode ser estúpido, mas pelo que senti é algo realmente provável. Compartilho contigo que aquele ser tem minha confiança e que a proposta dele resolve nossos problemas e esclarece muitas dúvidas.
— Sinto muito se não estou dando o real valor para tudo isto que compartilhou comigo, mas sinceramente não há lógica nenhuma em tudo isto.
— Não precisa se desculpar, apenas gostaria que estivesse sabendo de algo a mais, para no caso de tudo der errado e tenhamos que… — Maj parou e seus pensamentos voltaram a focalizar no momento onde se podia dizer que a crise tivera início.
— Voltando ao nosso problema original Javibi, você não acha que Korash agirá de forma inoportuna e talvez até violentamente?
— Tenho algo a compartilhar sobre isto Maj. Antes que nossa última união fosse desfeita. Eu e Korash permanecemos por alguns momentos em união e ele expressou sua raiva por ti, ou melhor, por sua decisão de não abrir Onish. Ele está totalmente determinado a depor você e tomar o seu lugar.
— Eu já desconfiava disso. Pobre Korash.
— Temos que estar preparados para o pior.
— Pode ter certeza que realmente precisamos. Acredito que Korash tentará se aliar com outras inteligências para nos derrubar.
— O que podemos fazer?
— Sermos realmente unidos. A união será a nossa maior força contra os ataques de Korash que com certeza virão.
— Conte com meu total apoio Maj.
— Antes que desfaçamos nossa união quero que se lembre de algo.
— Pode compartilhar Maj.
— Este ser, sobre o qual comentei, se fará presente em nossa próxima união. Quero que todos sintam o que eu senti. Tenho a impressão que a partir deste novo encontro, tudo mudará.
— Assim espero, Maj. Assim espero.
Com a união desfeita a estrela, após a explosão, expeliu para o espaço a maior parte de sua massa e o restante ficou fadado ao enegrecimento e morte.
4
ANOMALIA ESPACIAL
Ao contrário do que Korash imaginou, as negociações com o trio de inteligências revolucionárias, Elkenah, Libnah e Mamackra não estavam evoluindo. Também achou estranha aquela união. Sempre suas uniões eram completas, o que fazia com que todos os membros que participaram se tornassem conhecidos um dos outros. O compartilhamento era completo, exceto no caso de pensamentos obscuros. No momento, os elos de ligação eram rompidos constantemente, e raramente os quatro se uniam em um único pensamento. Pela primeira vez sentiu medo. Não sabia bem ao certo porquê, mas as três inteligências eram desprovidas de honra e isto fazia com que não possuíssem confiança, e por outro lado não confiavam em ninguém. Todo o aglomerado que formava a anomalia espacial era desprovido de ordem, onde seis elementos se misturavam em um caos. Matéria, antimatéria, espaço, antiespaço, tempo e antitempo.
— Eu sei que não tenho nada a oferecer, mas pense nas possibilidades de crescimento que vocês terão. — Os pensamentos de Korash se dispersou no emaranhado nebuloso da anomalia, e isto o deixou irritado.
— Já compartilhamos nossos pensamentos a respeito disto Korash. — Elkenah fez seus pensamentos se focarem diretamente em Korash, e este não tinha o apoio e a dissipação oferecidos por uma união comum. — Não temos interesse em crescimento algum. E fique sabendo que não estamos satisfeitos com sua presença aqui.
— Não gostamos do compartilhamento comum, — Libnah era o que menos compartilhava, mesmo com a união apenas dos três — e sua presença aqui nos impele a termos uma união completa, coisa que não queremos, pois almejamos possuir individualidade mesmo com as uniões.
— Você se contradiz meu caro. — Prosseguiu Korash — ou você é individual ou perde sua individualidade na união.
— Discordo totalmente inteligência Korash. Podemos estar unidos e mantermos nossa individualidade.
Você mesmo nos compartilhou que possui desejos próprios e específicos com relação às inteligências as quais se une. Não é você que quer ser o novo líder? E isto não mostra sua individualidade?
— Bem, analisando por…
— Não compartilhe mais nada inteligência Korash. — Interrompeu Mamackra — até agora você apenas tem transmitido seus ilógicos pensamentos e não estamos dispostos mais a permitir sua inteligência aqui. O que você quer?
— Como compartilhei antes…
— O que você compartilhou antes nós já sabemos. — Novamente Mamackra o interrompeu — Esta sua idéia, este seu ideal de alcançar Kolob não nos diz respeito a nada. Seu progresso também não nos interessa. Nossa ajuda não terá, pois não tem nada a oferecer. E também…
— E também até agora vocês não me deixaram entender o que realmente vocês gostariam em troca. — Foi a vez de Korash que interrompeu o compartilhamento de Mamackra.
— O que queremos, você é incapaz de nos oferecer.
— Como pode saber disto Mamackra, se não nos conhecemos e ainda não compartilhou isto comigo? –
Korash começou a ganhar confiança e prosseguiu — Deixe-me saber o que pretendem e daí poderão tirar suas conclusões.
— Você realmente é bem teimoso, e isto até certo ponto nos agrada, pois assim o somos. — Libnah pela primeira vez durante a união deixou um pouco de lado a repulsa e desinteresse.
Os gases saturados da anomalia juntamente com a matéria morta se misturaram em meio a um torvelinho espaço-tempo e as forças de atração gravitacional começaram a exercer domínio sobre toda a matéria inorganizada.
— Não creio que chamaria de teimosia. — Acrescentou Korash — vamos chamá-la de uma determinação própria.
— Não importa como você a considera. Para nós é simplesmente teimosia.
— Se assim o acha inteligência Libnah, pode me considerar um teimoso. — Korash nunca imaginou que um dia teria de usar de política, e isto era o mínimo necessário na situação em que se encontrava.
— Vamos compartilhar conhecimentos que temos guardado por muitas existências.
— Libnah, o que você está pretendendo compartilhar a esta inteligência? — Mamackra começou a não gostar do rumo que aquela união estava seguindo.
— Vamos compartilhar a ele nossa história.
— Por que deveríamos? — Perguntou Mamackra
— E por que não? — Elkenah que se mantive em união parcial entrou no compartilhamento de forma abrupta.
— Pelo simples fato de não conhecermos a inteligência Korash e não quero pensar que vamos compartilhar por que fomos persuadidos. — Mamackra deu vazão à sua irritabilidade.
— Irei compartilhar por que quero. — Afirmou categoricamente Libnah — e se não concordam, não os obrigo a se manterem unidos e receberem meu compartilhamento. — Focalizou seus pensamentos em Korash e, ignorando tal objeção, continuou.
Enquanto apenas Korash e Libnah se mantinham em união de compartilhamento a anomalia se distorceu e reações a nível atômico começaram a alterar a estrutura dos gases.
— Muito bem Korash, não sei bem ao certo o porquê estou fazendo isto. Creio que você é muito semelhante ao que fui no passado. Talvez seja isto.
Libnah deixou sua atenção e foco vagarem como se estivesse em um devaneio.
— E como ficam Elkenah e Mamackra?
— Não se preocupe, somos assim mesmo. Encontramos aqui nos confins da expansão algo que satisfaz nossos desejos, pois queremos manter uma união parcial e instável. Tudo isto que você está sentindo é o que nos faz ser o que somos.
— Para mim é uma experiência totalmente nova e confesso, um tanto estranho.
— Não é por menos. Você vive em suas uniões comuns.
— Vamos deixar um pouco este assunto por agora. — Korash esquivou-se de um assunto que não queria debater.
— Desde que formamos esta anomalia esta é a única vez que me interessei por outra inteligência. Mesmo na atual união que faço, não costumo me comunicar totalmente. Sou a inteligência mais incomunicável e digo a você que este compartilhamento não está sendo nada fácil. Mesmo sendo muito difícil, algo me induz a fazê-lo.
— Talvez não seria um interesse a nível mais profundo sobre a minha proposta? — Os pensamentos de Korash foram mais rápidos do que os de costume e com uma pequena dose de pretensão própria.
— Inteligência Korash. Quero deixar bem compartilhado nesta nossa união que o que estou prestes a compartilhar contigo não está relacionado a nada do que você nos comunicou anteriormente. Sua persuasão foi inútil e…
— Se foi inútil, por que estamos aqui compartilhando? — Cortou Korash.
— Simplesmente por eu quero.
— Vou me poupar e te agradar compartilhando o sentimento que acredito. — A ironia de Korash foi explicita quando toda a anomalia por um instante se imobilizou em um lapso no tempo linear.
— Você me permite compartilhar ou iremos nos separar?
— Por favor continue.
— Como eu estava compartilhando anteriormente, sua existência agora me traz à lembrança meu caráter de muitos e infinitos ciclos. Resumindo, fui o que você é hoje, ou melhor compartilhando, quase tive o que você quer no momento.
— Receio não estar entendendo completamente.
— Vou tentar explicar e creio que compreenderá. Nem mesmo eu tenho certeza do que realmente aconteceu. — Os pensamentos de Libnah cessaram por um instante como se estivesse buscando em suas lembranças algo há muito tempo esquecido e continuou — Há muitos e muitos ciclos eu recebi uma proposta. Uma proposta um tanto peculiar e que hoje sinto por não ter aceitado. Quem sabe esta chance volte para mim?
— Do que você está compartilhando? Que proposta foi esta?
— Não sei muito bem como compartilhar pois, foi algo totalmente desconhecido para mim na época em questão. Tratava-se de algo como passar para um próximo estado, algo baseado na confiança a uma inteligência superior.
— Como assim inteligência superior?
— Não sei. Foi algo que senti em toda a essência de minha inteligência individual. Uma presença diferente.
— Diferente?
— Sim, diferente. Uma presença que se impunha.
— Algo violento?
— Não. Foi algo totalmente amigável. Algo totalmente desprovido de interesses individuais. Algo, diferente. Não sei como explicar.
— Vocês se uniram para esta proposta?
— Por incrível que pareça não. Não sei explicar como, mas eu simplesmente sabia e sentia. Não havia compartilhamento de pensamentos como o que estamos fazendo, eu simplesmente ficava sabendo.
— Ficava sabendo? Não entendo.
— Nem eu.
Toda aquela lembrança mostrou uma inteligência Libnah diferente. Desde que resolveu se unir às outras inteligências, sempre transmitiu de forma reservada e sem qualquer porção de honra própria. Tornou-se introspecta e muito revoltada. Percebeu que perdeu uma oportunidade muito especial e que sinceramente se arrepende, mas seu orgulho a fez tornar-se renegada.
— Tudo bem — Korash ficou interessado ao extremo — mas o que esta inteligência lhe propôs?
— Algo extremamente bom que rejeitei. E foi aí que começo a nos comparar. Quando recebi a proposta, que irei explicar em breve, meu orgulho individual se tornou a essência de minha inteligência. A lógica e o raciocínio foram ignorados e sofro pela minha falha.
— E o que isto tem a ver comigo? No que podemos ser semelhantes?
— Na teimosia.
— Já lhe disse que não concordo que eu seja teimoso, apenas estou em busca de um ideal maior e não me escondo em minhas falhas. — Discordou Korash.
— Nem eu nas minhas. Sou o que sou porque sou, e assumo todas as minhas ações, inteligência Korash. Deixe seus compartilhamentos irônicos de lado.
— Sinto muito, mas por favor continue. Compartilhe a respeito da proposta que teve.
— Nunca tive um desejo como o seu em progredir. Apenas existia por existir. Mas quando tive este contato, vislumbrei algo novo. Mas como compartilhei antes, não quis mostrar fraqueza individual aceitando algo. Queria provar a mim mesmo que minha existência individual era única e independente. Agi ilogicamente. — Libnah compartilhou de forma não concentrada e depois de um tempo recomeçou — Como não me interessei muito pela proposta não poderei compartilhar com detalhes, mas tenho resíduos um tanto desconexos, mas creio que a idéia geral eu posso transmitir.
— Então, por favor, comece. — Korash começou a se irritar.
— Bem, o que a proposta oferecia era um nível superior, mas que eu teria que me submeter a uma forma corpórea definida. E que através da confiança a este ser eu poderia progredir, algo que eu não estava procurando, ainda mais ter que me submeter a tal exigência sem nenhuma garantia significativa. Não entendo muito bem como seria o processo, mas percebo hoje que perdi algo importante.
— E o quê o leva a pensar que perdeu algo se nem ao menos você sabe do que se trata?
— Acho que é simplesmente um impulso individual. Uma intuição.
— Isto também aconteceu à Elkenah e Mamackra?
— Sim, estávamos os três juntos, mas não em união.
— E pelo entendido eles também rejeitaram a proposta.
— Exatamente.
— Você se lembra de mais alguma coisa?
— Não. — Concluiu Libnah tristemente.
O compartilhamento foi interrompido enquanto os dois resolviam o que iriam compartilhar. A anomalia tornou-se bem maior com a reação dos gases. Toda a matéria inorganizada se desestabilizou de forma irregular através do espaço-tempo.
— Tenho pensado uma coisa, — continuou Libnah — creio que este tal nível Kolob que você tanto almeja é o mesmo que me foi oferecido por esta inteligência superior. Ah! — Parou por um instante e buscou em suas memórias — Ahman!
— Ahman!? O quê é isto?
— Não tenho certeza, mas creio ser o nome, ou parte do nome desta inteligência.
— Tudo bem Libnah, mas o que o leva a concluir que Kolob seria a sua proposta? É totalmente ilógico. Eu e as demais quatorze inteligências estamos progredindo por incontáveis evoluções para alcançá-lo e você me compartilha que te ofereceram isto gratuitamente? Isto é ridículo.
— Ridículo ou não é o que acho, e tenho quase certeza. E não era gratuitamente visto a submissão à uma entidade corpórea para tal.
— Que assim seja, mas eu sinceramente não acredito. — Korash parou por um instante e continuou. — Posso saber o porquê de seu compartilhamento disto para comigo? Sabendo de sua natureza rebelde e que possui introspecta individualidade, por que está compartilhando tudo isto? Quando aqui cheguei para pedir ajuda, me senti muito mal com a união parcial com vocês três. Sinceramente senti até medo. Durante nosso compartilhamento tive vontade até de desistir. Mas agora eu não entendo. O que está acontecendo?
As redondezas da anomalia eram parcialmente instáveis e ocupou o mesmo espaço da anomalia, devido a inconstância do continuum no espaço-tempo. Quando Libnah se preparou para responder, Elkenah e Mamackra voltaram a se unirem parcialmente.
— Como vai o compartilhamento? — Perguntou irônica e agressivamente Elkenah.
— Muito bem, e vocês se fazem presentes em ótimo momento. — Respondeu Libnah.
— Verdade? — Perguntou Mamackra — tem algo novo para nos compartilhar? E esta sua inteligência amigável que veio perturbar nosso relacionamento? Já podemos expulsá-la de nosso meio?
— Gostaria que vocês todos pudessem se focalizar em meu compartilhamento — disse Libnah ignorando os comentários de seus dois companheiros. — Estava para responder uma pergunta à inteligência Korash e agora com a união de vocês dois percebo que será melhor ainda. Enquanto vocês dois estavam em desunião eu compartilhei sobre a proposta que recebemos, a qual é nossa história. Estou decidido a mudar o rumo, se não da nossa, pelo menos da minha existência.
— O que você está tentando compartilhar com isso? — Perguntou Mamackra.
— Quero compartilhar que deste momento em diante não farei mais parte desta união parcial tríplice. Estarei me unindo a você Korash para alcançar o que tanto almeja.
— Você só pode estar brincando conosco. — Espantou-se Elkenah — Você se deixou levar pelos compartilhamentos ilógicos desta inteligência desconhecida?
— Não me deixei levar coisa nenhuma Elkenah. Você sabe muito bem que não sou de dar satisfação a nenhuma inteligência ou entidade, e agora não está sendo diferente. Estou fazendo isto pela minha própria existência e sei que vocês também sofrem, mas não querem admitir que perderam uma oportunidade inquestionável.
— Que oportunidade inquestionável que nada. Nós simplesmente…
— Por favor Elkenah, não compartilhe nada e deixe-me terminar. Estarei me unindo a você Korash, não pelo seu ideal, mas por saber que esta sua meta é aquilo que me foi oferecido por Ahman mediante confiança mútua. Que fique bem claro. Estou fazendo isto por mim e não por você. E quanto a vocês, Elkenah e Mamackra, podem se juntar a nós. Caso não queiram terão que deixar a anomalia, pois apenas com uma união dupla ela entrará em colapso.
— Não sei sobre vocês três, mas eu estou totalmente satisfeito. — Korash transmitiu sua satisfação pela sua vitória perante os três, ao contrário do que Libnah compartilhou.
— Não estamos interessados em sua satisfação inteligência Korash. — Compartilhou agressivamente Mamackra.
— Você tem certeza sobre isso? — Perguntou Elkenah.
— Nunca estive tão certo. — Afirmou Libnah — O que precisamos saber agora é o seguinte. Vocês irão nos acompanhar ou não?
— Sinceramente não sei. — Respondeu Mamackra.
— Eu por mim mesmo não estou muito animado com a idéia de seguir Korash. — Compartilhou Elkenah.
— Não vou esperar mais sobre as suas indecisões. Estou deixando nossa união e como vocês já sabem a anomalia que nos mantém em união parcial e instável deixará de existir. Assim despeço-me de vocês dois.
Korash ficou isolado e não pode receber completamente o compartilhamento das três inteligências. Ficou feliz por ter um aliado em sua causa e não se importou com os detalhes de tal união, desde que a mesma pudesse fazer com que se tornasse o líder em Oliblish e assim viesse a alcançar Kolob. Já estava fora da anomalia quando percebeu que a mesma entrou em colapso. As reações atômicas se misturaram com as partículas atemporais e gradativamente toda a matéria se dissipou. Enquanto contemplou a desintegração, um forte pensamento chegou à sua inteligência.
— Vamos Korash. Temos algo a conquistar. — a essência da inteligência Libnah se misturou à de Korash em meio à irradiação emitida pelo colapso da anomalia.
— Realmente posso contar com sua ajuda?
— Se não pudesse porque acha que deixei a anomalia?
— Então vamos. — Assentiu Korash.
Ao moveram-se por meio da irradiação e compartilharam ideias de como conseguir seu objetivo, um pensamento duplo foi compartilhado repentinamente, causando espanto a Korash e Libnah.
— Estamos com vocês! — Os pensamentos de Elkenah e Mamackra se dissiparam através da irradiação.
Enquanto se uniram, a intensidade da irradiação aumentou e um pensamento obscuro não compartilhado foi formado por Korash.
— Ótimo!
5
ÁTOMO
A união que deveria acontecer de forma regular como sempre, foi iniciada com discussões violentas.
Toda a pesquisa sugerida por Javibi foi realizada por todos, menos por Korash. O pequeno átomo de Fósforo, com seus quinze elétrons orbitando o núcleo, ficou instável.
— Você simplesmente não fez a pesquisa? — Maj mostrou-se totalmente indignado
— Tenho algo muito melhor a compartilhar do que simples análises de aberturas anteriores. — Korash transmitia uma dose de ódio.
— Korash. — Começou Javibi, sempre de uma forma mansa e respeitosa — Concordamos em fazer a pesquisa para juntos avaliarmos os padrões decorrentes das aberturas anteriores para que desta forma possamos…
— Chega Javibi! — Explodiu Korash — Você é uma boa inteligência, mas seu grande defeito é sua submissão ao incompetente Maj. Estou farto de tanta inatividade. Quero que vocês conheçam meus três novos amigos.
A estrutura do átomo foi abalada violentamente. Elkenah, Libnah e Mamackra juntaram-se às quinze inteligências de Oliblish. Uma sensação ruim foi sentida. A intermitência dos pensamentos causou incômodo a todos.
— Maj, neste momento quero que saia de nossa união e nunca mais procure liderar um grupo de inteligências. — Korash ordenou com todo o ódio de sua existência.
— Korash, mas que falta de respeito em não apresentar seus amigos intrusos. — Comentou Maj com desdém.
— Não são intrusos. São meus convidados.
— Muito bom. Parece que esta união será uma exclusiva de convidados. — Maj compartilhou de forma tão firme e confiante que abalou Korash de forma profunda. — Na realidade creio que os resultados das pesquisas por si só não serão necessários, mas apenas para conhecer melhor a índole de cada inteligência. Assim como você Korash, também tenho um convidado muito especial.
Uma presença marcante foi sentida por todos. Um sentimento de bem-estar e de afinidade foi sentido por todas as inteligências. Dentre todos os novos sentimentos, algo novo e agradável foi recebido daquele ser. E sobre este algo novo, souberam que era amor.
— O que é isto? — Korash sentiu medo.
— Este é meu convidado. — Respondeu Maj.
— É ele mesmo Korash. — Compartilhou Libnah — A entidade Ahman da qual compartilhei contigo anteriormente.
— Não vou aceitar seus truques Maj. — Korash, mesmo sentindo aquela presença agradável, continuou seu desafio. — Por favor, saia imediatamente ou…
— Pare de compartilhar neste instante Korash. — Ordenou Libnah — vamos entender e sentir Ahman.
O compartilhamento foi diferente. Todas as dezoito inteligências sentiram em sua própria essência tudo o que Ahman ofereceu. Entenderam que o próximo nível não era o último, mas uma transformação. Apenas mais uma etapa no progresso eterno. A confiança era a base de tudo e, pelo amor transmitido, souberam que tudo era verdade. Todo aquele sentimento prolongou-se de tal forma que todos perceberam que Ahman era um ser perfeito e glorificado, cujo propósito era proporcionar às incontáveis inteligências, a oportunidade de tornarem-se assim como ele era.
Todo o entendimento e compreensão foram adquiridos instantaneamente por todas as inteligências.
Sabiam o que deviam fazer. Mas tão logo souberam, Korash compartilhou de forma revoltada:
— Não sei quem ou o que você é Ahman, mas não estou disposto a me submeter a nada para aceitar de forma ilógica este suposto pseudo nível de progresso. — Mesmo sabendo em sua essência a veracidade de tudo, seu orgulho prevaleceu.
— Não seja tolo. — Alertou Libnah — Não faça como eu. Não compensa uma existência de revolta por uma oportunidade perdida. Sou grato por ter novamente esta oportunidade.
— Sim Korash. — Elkenah e Mamackra compartilharam simultaneamente — Deixe o orgulho e venha conosco.
— Não. — Foi o último e triste compartilhamento de Korash.
A estrutura química do átomo de fósforo liberou elétrons em combinação a outros elementos, formando novos fosfatos.
Exceto por Korash, todas as inteligências seguiram Maj, que por sua fez seguiu Ahman. Uma nova e incrível jornada começou. Korash por sua vez escolheu as proximidades das trevas exteriores.
6
MUNDO ESPIRITUAL
— Incrível tudo isto. — Maj, em pé, olhava com ternura para os lindos olhos castanhos de Javibi. Ela por sua vez perguntou:
— O que é incrível?
— Esta nossa existência. Quem poderia imaginar. — O comentário de Maj foi pronunciado com uma certa quantidade de devaneios.
Desde que aceitaram a proposta de Ahman, Maj e Javibi estreitaram os laços de afeição e amizade. Maj era alto, cabelos negros e olhos profundamente marcantes. A bela Javibi, com seus longos cabelos castanho claros, observou Maj de forma carinhosa. Ela usava uma túnica branca, tendo uma faixa dourada amarrada à cintura. Sentada, ficou admirando a beleza de Maj, o qual tinha o olhar perdido no horizonte. Reparou o balançar do cabelo e da túnica bege ao suave vento. Levantou-se, tomou Maj pela mão, e disse puxando-o gentilmente para iniciar o caminhar:
— Vamos, meu querido. — Javibi beijou-o na face — Não quero chegar atrasada ao Conselho dos Céus.
Quero saber tudo sobre nosso segundo estado no planeta Terra.
Seguiram de mãos dadas rumo à Mansão de Ahman.
Marcelo Bighetti
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“As inteligências” foi publicado inicialmente em Aquilo que nos move, editado por Rex P. Nielson e Kent S. Larsen.